Under Pressure

14 fevereiro 2009

Fluminense vs Vasco
08/02/2009

Existe algo de fundamentalmente diferente quando você vê um jogo nas cadeiras do Maracanã, e não nas arquibancadas. Pra começar, a visão é inteiramente diferente. Nas arquibancadas você vê o jogo de cima, naquilo que os especialistas chamariam de “perspectiva isométrica”. Nas cadeiras, você vê o jogo de frente, como se fosse uma televisão tridimensional. São duas experiências completamente distintas. De cima, você entende a tática, percebe o que técnicos e jornalistas querem dizer com aquelas “linhas de ônibus” (4-3-3, 4-4-2, 3-5-2), entende as mudanças do jogo. Da arquibancada, você vê um jogo de xadrez se desenrolando.

Isso, claro, quando você consegue ver alguma coisa. porque um dos efeitos colaterais de um jogo visto das arquibancadas, principalmente quando é um clássico, é aumentar muito o nervosismo de um torcedor. Durante aquelas duas horas, você é parte de um organismo, “A Torcida”. Você canta no mesmo ritmo, compartilha seus humores, e raramente consegue ver o jogo, a não ser com uma parte ínfima do seu ser, aquela parte que não está irremediavelmente perdida roendo unhas, agoniado, esperando a hora em que “A Torcida” vai pular gritando “gol” a uma só voz. Ou que vai soltar um gemido de decepção (ou, dependendo do dia, um resmungo de conformismo, tinha-mesmo-que-ser, até-que-estava-demorando), quando a bola entra na sua rede, ao invés da outra.

As cadeiras trazem uma experiência diferente. Você está na linha do campo. Só vê direito o lado mais perto de onde você está. Consegue ver a cara dos jogadores, e até acha que eles podem escutar os seus gritos. A torcida (que não parece “A Torcida” vista daqui) está acima de você, e não dentro. Para piorar, você só a ouve de forma difusa. Porque, sadicamente, tudo que você vê da arquibancada é a torcida rival, lá do outro lado. A sua torcida, ali em cima de você, separada por um bloco de concreto, fora do alcance da sua vista, não parece realmente sua. Você ouve ela cantar, mas se sente meio ridículo acompanhando. De uma certa maneira, você é um penetra naquela festa. Você não está lá no meio. Não tem direito a participar da comunhão. Continue lendo »


Tudo como dantes

27 janeiro 2009

E começou a Taça Tabajara, o campeonato mais… zzz… charmoso… zzz… do Brasil. Haja paciência para esses estaduais e seus clássicos do tipo Arranca-Toco versus Macaxeirense. Mas tem gente que gosta, fazer o que?

E, dentre os estaduais, nada supera a Taça Tabajara, também conhecida como “Cariocão”. Logo na primeira rodada, o atual bicampeão, Petrobras FC, enfrentou um dos times pequenos do interior. Jogo duro, 0x0 teimoso, até que no segundo tempo… um gol dos visitantes.

“Como? Não pode ser! O poderoso Petrobras FC não pode levar gol! Como o melhor time do mundo, e quiçá do Brasil, pode passar uma vergonha dessas? Carioca é obrigação, p*!”, pensou o assustado bandeirinha. E correu para marcar alguma coisa. O que? Não sei, nem ele sabe, e nem isso importa. Importa era anular o gol. Que atrevimento desses caipiras da serra, vir aqui e achar que podem estragar a festa dos portadores do “manto sagrado”. Quem eles pensam que são?!

O video com o lance pode ser visto aqui. Reparem em dois detalhes. O primeiro, a expressão desalentada de Victor Hugo, autor do gol. E o segundo, o desespero do Wright tentando justificar o injustificável. É o retrato do futebol carioca. Flapito strikes again. Continue lendo »