Uma questão de fé

24 fevereiro 2009

ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS DA 5ª TEMPORADA DE LOST. SÓ LEIA SE JÁ TIVER VISTO ATÉ O EPISÓDIO 5×06 – “316”.

“- Isso é ridículo!
– Pare de pensar no que é ridículo, e pense no que você acredita. É por isso que se chama um salto de fé.”

“- Todos nos convencemos mais cedo ou mais tarde, Jack.”

“- Ele está falando a verdade?
– Provavelmente não.”

Lost é uma série que transita em vários níveis. Há o nível do enredo, com as aventuras, as viagens no tempo, as teorias mirabolantes. Há o nível das referências, com o joguinho dos fãs procurando pistas, citações, números malditos escondidos na tela como o Corujito no desenho da She-Ra. E há o nível dos personagens, desde sempre o mais interessante para mim. As primeiras temporadas, com os flashbacks, foram muito ricas nesse aspecto. Depois, a história acabou seguindo outros rumos, e andamos mais presos a tentar entender o que está acontecendo, e principalmente quando isso está acontecendo. Mas, em episódios como “316”, voltamos a lembrar porque Lost é Lost. E porque ela é muito mais do que uma série sobre um grupo de sobreviventes perdido no espaço – e no tempo.

Eu sempre defendi a tese de que a teia que envolve os personagens de Lost se apóia em meia dúzia de taglines, a maior parte delas títulos de episódios. Assim como os números malditos, assim como as estações da Dharma, também essas frases montam um quebra-cabeça, um “jogo do curinga” que, reunido e colocado em ordem, ajuda a explicar muito do que está acontecendo.

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Under Pressure

14 fevereiro 2009

Fluminense vs Vasco
08/02/2009

Existe algo de fundamentalmente diferente quando você vê um jogo nas cadeiras do Maracanã, e não nas arquibancadas. Pra começar, a visão é inteiramente diferente. Nas arquibancadas você vê o jogo de cima, naquilo que os especialistas chamariam de “perspectiva isométrica”. Nas cadeiras, você vê o jogo de frente, como se fosse uma televisão tridimensional. São duas experiências completamente distintas. De cima, você entende a tática, percebe o que técnicos e jornalistas querem dizer com aquelas “linhas de ônibus” (4-3-3, 4-4-2, 3-5-2), entende as mudanças do jogo. Da arquibancada, você vê um jogo de xadrez se desenrolando.

Isso, claro, quando você consegue ver alguma coisa. porque um dos efeitos colaterais de um jogo visto das arquibancadas, principalmente quando é um clássico, é aumentar muito o nervosismo de um torcedor. Durante aquelas duas horas, você é parte de um organismo, “A Torcida”. Você canta no mesmo ritmo, compartilha seus humores, e raramente consegue ver o jogo, a não ser com uma parte ínfima do seu ser, aquela parte que não está irremediavelmente perdida roendo unhas, agoniado, esperando a hora em que “A Torcida” vai pular gritando “gol” a uma só voz. Ou que vai soltar um gemido de decepção (ou, dependendo do dia, um resmungo de conformismo, tinha-mesmo-que-ser, até-que-estava-demorando), quando a bola entra na sua rede, ao invés da outra.

As cadeiras trazem uma experiência diferente. Você está na linha do campo. Só vê direito o lado mais perto de onde você está. Consegue ver a cara dos jogadores, e até acha que eles podem escutar os seus gritos. A torcida (que não parece “A Torcida” vista daqui) está acima de você, e não dentro. Para piorar, você só a ouve de forma difusa. Porque, sadicamente, tudo que você vê da arquibancada é a torcida rival, lá do outro lado. A sua torcida, ali em cima de você, separada por um bloco de concreto, fora do alcance da sua vista, não parece realmente sua. Você ouve ela cantar, mas se sente meio ridículo acompanhando. De uma certa maneira, você é um penetra naquela festa. Você não está lá no meio. Não tem direito a participar da comunhão. Continue lendo »


Weekend at John’s

8 fevereiro 2009

Atenção: spoilers para quem não está acompanhando Lost. Se você ainda não viu a quarta temporada até o final, não leia o resto do post. Continue lendo »