Welcome to Congo

17 outubro 2007

“O Congo está nos ensinando como construir uma democracia cada vez mais forte e na paz.”
(Luís LI, o Rei-Nu, em tournée pelas democracias à africana)

Cada um aprende as lições de acordo com a sua capacidade de aprender, não é mesmo?

Vamos ver o que o Congo tem a ensinar a Lula sobre democracia.

O atual presidente congolês, o senhor Denis Sassou-Nguesso, chegou ao poder em 1979, depois de um golpe de Estado. Dominou o país com mão de ferro durante 13 anos, até ser derrubado, em 1992. A partir de então, Monsieur Sassou-Nguesso buscou o apoio de seus amigos angolanos do MPLA para retomar o comando do Congo. Depois de uma sangrenta guerra civil, conseguiu voltar ao trono em 1997. Está lá até hoje.

Eleições? Sim, houve uma, em 2002, vencida por Sassou-Nguesso com 100% dos votos, já que, dos seus três adversários, dois foram cassados e um desistiu da candidatura na véspera do pleito, ouvindo o “apelo” do presidente.

É esse o homem que Luís LI considera ter muito a lhe ensinar em termos de democracia. Logo, pela lógica, concluímos que, ao menos para o Noço Guia (de turismo) o ditador Sassou-Nguesso é mais democrata que ele, o suficiente para lhe dar “aulas”.

Na véspera, Lula tinha estado na Burkina Faso, onde discursou (não riam, por favor, que a coisa é séria) sobre a “revigoração da democracia na África”. E falou isso ao lado de um outro professor, o presidente burkinês-fasano (?) Blaise Camporé.

O que Camporé ensinaria a Lula sobre democracia? Bem, Camporé era um capitão do exército de Burkina, que deu um golpe em 1987, assassinou o presidente Thomas Sankara, e assumiu o poder. Aprovou uma nova Constituição, que permitia reeleição perpétua, e venceu as eleições seguintes, em 1991, 1998 e 2005. Está, portanto, completando 20 anos de governo democrático e popular, e se preparando para o quinto mandato, “Camporé de novo nos braços do povo”.

Camporé ensina mais a Luís LI: ensina a ele novas maneiras de utilizar a novilíngua orwelliana. O ditador burquinense convidou o seu colega brasileiro para a “comemoração” dos 20 anos do seu governo popular e democrático. O AeroLula foi recebido por grupos de jovens com bandeiras do Brasil, e faixas exaltando os “20 anos de democracia e progresso” da Burkina Faso, sob a liderança do herói Blaise Camporé. Para marcar a efeméride, Camporé organizou um colóquio com o tema “Democracia e Desenvolvimento na África”, onde Lula foi o convidado de honra. A banda militar burquinesa tocou Chico Buarque, em homenagem ao ilustre visitante.

No discurso, além de exaltar a democracia burquinesa, Luís LI não deixou por menos:

 

“Se ao invés de pão a gente comprar canhão, ao invés de arroz comprar fuzis, e se ao invés de abraçar um companheiro atirar nele, certamente o país nunca irá se desenvolver.”

Ao seu lado, o companheiro Camporé, que pra tomar o poder pegou um fuzil e atirou no presidente Sankara, ao nivés de abraça-lo como a um irmão, sorriu amarelo.

Luís LI, realmente, deve ter se sentido em casa na Burkina Faso. Afinal, um país de 13 milhões de habitantes e 10 milhões de analfabetos, onde um tirano se eterniza no poder “nos braços do povo” é mesmo um paraíso…

Acho que podemos imaginar que tipo de “lições democráticas” Noço Guia (de turismo) traz de volta para casa, não? E para aqueles que quiserem me chamar de “cão raivoso da direita reacionária elitista e leitor da Veja”, talvez seja interessante ouvirem as palavras de vosso guru, o sargento Marco Aurélio “top top, fuc fuc” Garcia:

“O governo brasileiro considera Burkina Faso uma democracia. Seu presidente tem se subordinado a eleições livres, fiscalizadas internacionalmente.”

É bom sabermos o que MAG, a eminência parda do PT e do Foro de S. Paulo, entende por “democracia” e “eleições livres”. Assim, quando ele usar esses conceitos por aqui, podemos lembrar de lhe perguntar: “o PT defende democracia como a de Burkina Faso, e eleições livres como as que elegeram Camporé, Mr. MAG?”.

Enquanto isso, na Sala da Injustiça…

O TSE decidiu que os mandatos dos parlamentares pertencem aos partidos, e que o troca-troca de políticos, geralmente atrás de vantagens oferecidas pelo governo, pode ser punido com a perda do mandato.

Vai daí, vão ao Congresso Nacional entrevistar um cidadão chamado Luiz Sérgio, deputado federal pelo PT (argh) do RJ (argh, argh), que dispara a sua fórmula para “curar” o problema provocado pelo TSE.

“Isso mostra que está mais que na hora de fazermos uma reforma política, ampla.”

Tudo é desculpa para o PT querer interferir nas decisões do Judiciário – quer dizer, naquelas que os desagradam. E tudo é pretexto para trazer à baila a idéia da “reforma”, da “Constituinte”, ou coisa que o valha.

Fica a pergunta: deputado Luiz Sérgio, uma reforma política ampla nos mesmos moldes daquela proposta pelo democrata governo da Burkina Faso?