A benção, João de Deus

16 junho 2008

GP do Canadá de 2007. Um gravíssimo acidente com a BMW do polonês Robert Kubica assusta quem assistia à prova. A pancada é assustadora. O carro fica reduzido praticamente à célula de sobrevivência. De acordo com a impressão geral, o jovem piloto, talvez o melhor surgido na F1 nos últimos anos, deveria estar gravemente ferido. Isso se sobrevivesse.

Kubica saiu do carro, inteiramente destruído, consciente. Uma prova depois, estava de volta às pistas, sem nenhuma seqüela.

Para muitos, um milagre. Para alguns, era fácil adivinhar o santo responsável: Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, conterrâneo de Kubica, ambos nascidos na cidade de Cracóvia. Mais que isso: Kubica, católico devoto, carrega uma imagem do antigo Papa no capacete. O caso foi enviado ao Vaticano, e anexado ao processo de canonização de João Paulo II.

GP do Canadá de 2008. Um ano depois, Robert Kubica conquista sua primeira vitória na F1, também a primeira de sua equipe nessa nova “encarnação”. A vitória de Kubica andava madura, com bons resultados nas últimas provas. Mas parece que tudo conspirou para que ela acontecesse em Montreal.

“Filma eu, Galvão! Eu sou pequenina, mas sei dizer o nome do Kubica melhor que você!”

Um milagre? Não chega a tanto. Milagre foi ver Rubens Barrichello de novo na ponta, e segurando um sétimo lugar com o carro totalmente comprometido. Milagre foi ver David Coulthard de novo liderando uma prova, e chegando ao podium. Um prêmio merecido para dois ótimos pilotos, muito injustiçados por parte da imprensa.

Mas é inegável que a vitória de Kubica teve um toque de “tinha que ser hoje”. Na lambança de Hamilton, que tirou da prova ele próprio e Kimi Raikkonen. Na falha do equipamento de reabastecimento da Ferrari, que atrapalhou a corrida de Massa. Na falha do câmbio de Fernando Alonso, que fez uma prova excepcional, e parecia ser o único capaz de ameaçar a vitória de Kubica.

Tudo isso aconteceu, e o polonês fez sua parte, brilhantemente. Fazendo uma parada a mais que o companheiro Nick Heidfeld, fez doze voltas voadoras, onde abriu a diferença suficiente para voltar na ponta depois do segundo pit stop. Daí em diante, foi só administrar. Nenhum erro, uma corrida impecável.

“Não, eu não sou filho do Alain Prost, e nem irmão do Fábio Seixas.”

E assim, a F1 ouviu um novo hino. Pela primeira vez, o hino da Polônia tocou, a bandeira polonesa foi hasteada no lugar de honra. Temos um novo vencedor na categoria.

“There’s a new sheriff in town…”

A nota negativa da corrida vai para mais uma barbeiragem de Lewis Hamilton. O que o inglês fez, atropelando Kimi Raikkonen nos boxes, é algo difícil de engolir. Galvão Bueno, na hora da transmissão, disse que era “a maior besteira da carreira de Hamilton”. Não sei. Ele já fez tantas… “Nunca antes na história da F1” um piloto de equipe grande fez tantas lambanças em tão pouco tempo de carreira.

O que Hamilton fez no GP do Canadá foi uma bela síntese do que é Lewis Hamilton. Atabalhoado e nervoso, não viu a luz vermelha. E, quando notou que não ia conseguir frear, apareceu o traço de mau-caratismo, escolhendo jogar o carro em cima de Raikkonen, pensando que, já que ele ia sair da prova, era melhor para o campeonato levar o finlandês junto. Muito triste. Se não fosse a boa vontade que a FIA sempre tem em relação ao inglês, era caso para uma suspensão de duas ou três corridas.

(Antes que alguém pergunte, ou insinue que “só eu digo essas coisas”, porque tenho “preconceito com o pobre Hamilton”, é bom dizer que, sim, eu notei isso logo na hora. Pra mim ficou óbvia a manobra de Hamilton, escolhendo atingir Raikkonen. Mas fiquei agradavelmente surpreso no dia seguinte, ao ver que boa parte da imprensa especializada, sempre pronta a defender o “fenômeno”, também tinha enxergado isso. É uma esperança.)

Mas eu devo um pedido de desculpas a Hamilton. Ao contrário do que eu sempre disse, ele acaba de me provar que realmente é um bom acertador de carros… Pelo menos o do Raikkonen ele soube acertar. Em cheio.

“E depois… hic… dizem que… hic… o bêbado sou eu. Pelo menos eu ainda sei reconhecer… hic… um sinal vermelho.”

Para fechar com chave de ouro, ficamos com mais um divertido “Marcatoons”, a animação do Jornal Marca. Impagável.


Cuca tão fresca como uma boa vodka deve ser

6 abril 2008

É por essas e por outras que eu adoro o Kimi Raikkonen…

A foto abaixo é o registro oficial da vitória da Ferrari em Sepang, no GP da Malásia, há duas semanas atrás:

O primeiro destaque, claro, é a ironia da passagem da McLaren, empurrada de volta aos boxes, depois de uma prova medíocre de Lewis Hamilton. Dessa maneira, a foto pega o triunfo duplo da Ferrari: festejando sua vitória, e vendo a derrota da rival.

Mas essa foto tem outro detalhe bem interessante.

Estão vendo um rapaz sentado, mais ou menos no meio da foto, parecendo levemente diferente dos outros ferraristas?

Talvez assim fique mais fácil encontra-lo:

Pois é. Este é Kimi Raikkonen, de bermudas e havaianas, vibrando depois de uma vitória de ponta a ponta no GP da Malásia. Este é o finlandês, triunfante, festejando sua conquista.

Este é o campeão do mundo, olhando o troféu vazio e pensando:

“Que desperdício. Por que não enchem isso aqui de Koskenkoorva?”

Tem como não gostar do Kimi? 🙂

(Fotos de Roland Weirauch, Agência EFE, via Fábio Seixas.)